quinta-feira, 11 de julho de 2013

ALIMENTOS BIOLÓGICOS: MITOS E REALIDADES



Fonte: Hipócrates online por Carlos Campos Ventura*

Desde 1971 que adoptei as causas ecologistas e, simultaneamente, me apercebi da importância da agricultura biológica. Nesse tempo a oferta era muito limitada, mesmo em Paris, onde eu então vivia. Mas lá já começava a haver pequenas lojas de bairro com alimentos biológicos, principalmente pão, cereais, frutos e legumes, até porque a França foi um dos primeiros países a ter movimentos de agricultores biológicos. Actualmente, a situação é radicalmente diferente. Ao longo de todos estes anos atingiram-se objectivos que pareciam utópicos ainda há poucas décadas. Vamos ver os aspectos mais controversos e questionados, assim como outros, os positivos, acerca da produção e consumo dos comummente chamados alimentos biológicos.

Afinal, qual é a designação: biológicos ou orgânicos? Na realidade, o termo correcto é "de produção biológica". Mas o que entrou na linguagem corrente é dizer que determinado alimento é biológico. A designação em português é, em qualquer caso, "de produção biológica" ou biológico. O termo "orgânico" vem de tradução a partir do inglês mal feita ou então do uso do termo brasileiro. Por exemplo, na edição do jornal Metro de 22 de Abril de 2010 (dia da Terra) aparece 6 vezes o termo orgânico (e só 5 o biológico)... Dias depois (a 27 de Abril), e desta vez foi bem mais grave, no programa "Um minuto Verde" da responsabilidade da Quercus, na RTP I, foi repetidamente empregue o termo "orgânico" referente a biológico.

Os alimentos bio (abreviatura de biológicos) são na realidade cultivados sem químicos? Esta é uma dúvida muito comum. Sim, são. As pessoas desconfiam que comprar alimentos que dizem que são bio é uma perda de dinheiro e é estar a ser enganado. E isso podia ser verdade em certos casos até há alguns anos, mas a partir da altura em que a legislação europeia passou a regular esta actividade, existem sanções para quem infrinja as normas. É claro que existem fraudes em todas as actividades humanas e esta não é excepção, mas é só isso. Segunda a lei, podem ser usados alguns factores de produção, que poderíamos traduzir por "remédios", neste caso naturais. Muitos destes não são muito diferentes dos utilizados pelos seres humanos: chá de cavalinha ou de urtiga, preparados homeopáticos, etc. e estão elencados numa lista positiva e devem ser usados com respeito pelas condições enumeradas e sempre com justificação. Actualmente, a produção biológica na Europa abrange produtos vegetais (transformados ou não), plantas espontâneas, algas marinhas, alimentos para animais, produtos animais, apicultura e aquicultura.

Quem é que me garante que um alimento que diz que é bio, o é realmente? É obrigatório haver uma entidade que certifica a qualidade biológica do produto. Essa entidade actua como terceira parte independente do produtor, realizando auditorias nas unidades de produção / fabrico e / ou pontos de venda, mas o operador é sempre o responsável pelo produto que apresenta no mercado. A certificação que pode ser emitida para os produtos (ou alguns deles) atesta a conformidade face aos requisitos regulamentares, transmitindo a necessária confiança nos mercados e no consumidor. As normas são europeias, apesar de, como em todas as actividades humanas, haver diferença de qualidade entre as várias entidades certificadoras (umas são mais rigorosas e exigentes, outras menos). Os organismos de certificação são públicos ou privados, consoante o critério adoptado pelas autoridades em cada Estado-membro, as quais reconhecem os critérios de competência, imparcialidade e independência, além da acreditação obrigatória pelo respectivo organismo nacional (em Portugal, o IPAC).

São mesmo melhores no sabor? Sem dúvida. É unânime entre quem prova alimentos biológicos que eles representam o retorno aos sabores de antigamente, como contraponto aos alimentos de agora, insípidos neles mesmos e dependentes de saborizantes e aditivos esternos.

Os alimentos biológicos são mais nutritivos? É verdade. Em primeiro lugar porque em média os alimentos convencionais contêm muita mais água. Contendo menos, os biológicos têm logo, à partida, para o mesmo peso mais nutrientes e fibra.

Os bios são muito mais caros! Isto já foi verdade. Hoje em dia as diferenças estão muito esbatidas e quanto mais tempo passa, menos a diferença se nota. Esta evolução deve-se a que maior consumo permite produções maiores, que por sua vez permite baixar os preços. É inclusivamente já comum encontrarem-se alimentos bio com preços mais baixos que outros convencionais. É claro que estas nuances variam muito com os produtos e com a sua origem, mas do que não há dúvida é que a velha questão do preço já não é o que era.

Os bio são bichados, pequenos e com mau aspecto! Isso passava-se quando as produções eram muito improvisadas e conduzidas por pessoas com muito boas intenções mas com muito pouco saber. As terras e as plantas eram desequilibradas. Actualmente, os alimentos bio têm aspecto saudável, apesar de não serem submetidos às operações de cosmética que muitos alimentos convencionais sofrem.

A agricultura biológica é coisa de marginais e hippies. É uma moda! A agricultura biológica tem já cerca de 100 anos. Mas teve de facto o grande incremento nos anos sessenta, passando a partir daí progressivamente a estar cada vez mais presente na agenda dos agricultores, dos consumidores, dos políticos, dos legisladores e da sociedade como um todo. A agricultura biológica veio para ficar.

É verdade que alimentação biológica é coincidente com alimentação vegetariana, macrobiótica ou natural? São coisas diferentes. É verdade que foram estes movimentos que desde sempre dinamizaram, defenderam e praticaram a agricultura biológica e o consumo dos alimentos biológicos, mas a qualidade biológica dos alimentos não se limita a certa(s) dieta(s).

Qual é a grande importância da agricultura biológica: para a saúde humana ou da Terra? É certo que a esmagadora maioria dos consumidores compram bio por preocupações em relação à sua saúde, já que estão conscientes de que os químicos causam danos e estão presentes nos alimentos de agricultura convencional. Mas, para além de ser inegável a vantagem para a saúde dos consumidores, a essência da razão da agricultura biológica é a saúde do Planeta (da qual depende, em última análise, a saúde dos seres humanos).




AGRADECIMENTO- o autor agradece as sugestões e críticas de Fernando Serrador, Director técnico da CERTIPLANET, provavelmente o mais experiente especialista em certificação de produção biológica em Portugal.




*Director do Instituto Hipócrates de Ensino e Ciência www.institutohipocrates.pt; presidente da Comissão de Certificação da Certiplanet (entidade que certifica operadores e produtos de agricultura biológica); director da Biocoop (cooperativa de consumidores de alimentos biológicos)

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